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  • Foto do escritorHenrique Correia

Quem casa, sem casa...



Compreendendo a importância do mercado em querer aproveitar enquanto está a dar, também é preciso não fazer uma política de "quem vier a seguir feche a porta".




O mercado imobiliário está em alta na Madeira. E não só no Funchal, também em vários outros concelhos. Dizem que a procura é maior do que a oferta, dizem que o mercado de luxo é que está em alta e a prova disso está nos diversos empreendimentos construídos ou em construção no espaço compreendido entre a Praia Formosa e a Zona Velha, sendo que na periferia, próxima e até mais distante, já é praticamente impossível, aos madeirenses de rendimento médio, terem poder de compra para um apartamento mediano.

Um T2 para venda, nos Piornais, a 345 mil euros, um T1 em Santo António a 200 mil, um apartamento T1 para arrendar a 950 euros/mês. São estas pequenas amostras de um universo do mercado imobiliário disponível mas destinado a um poder de compra que não corresponde ao rendimento médio da maior parte dos madeirenses. Mas vendem-se casas e apartamentos a este preço, exemplo disso é o empreendimento Madeira Acqua Residences que é constituído por 181 apartamentos – tipologias T1 a T4 e penthouse –, todos com varanda, dos quais 25 com piscina e 27 com jardins privados. Faltavam, há um mês, vender dois. O Edifício VARINO 05, o primeiro edifício do empreendimento 'Dubai' Madeira, com conclusão prevista para o segundo semestre de 2023, está 100% vendido. E ainda faltam construir muitas torres.

Claro que esta realidade é positiva e importante para o sector da construção civil, para a economia gerada na compra e venda e nos impostos, logo se vê se corresponde a uma realidade de retorno diário, de vida habitada das cidades uma aposta no rendimento. Seja como for, é preciso aproveitar enquanto está a dar, não é isso que é posto em causa, mas também não estamos a ver como é que este boom pode ser compensado com ofertas acessíveis aos madeirenses que querem habitar na Madeira, no Funchal mais precisamente, e não estamos a falar apenas de casais jovens, estamos a falar de pessoas que trabalham, que até pouparam para comprar casa, para os 10% de entrada pelo menos, e repentinamente viram T2 e T3 perto do meio milhão de euros. Se não era fácil poupar 15 mil, 32 ou 40 mil é praticamente impossível a um casal de trabalhadores mesmo da classe média.

O Governo Regional tem desenvolvido uma estratégia que visa deixar o mercado de luxo instalar-se como e onde quer - o mercado é livre é assim que funciona, mesmo com a consequente especulação que uma realidade destas viabiliza - e preparar terrenos para construção a custos controlados ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência. Ou seja, a cidade do grande investimento imobiliário e a cidade estigmatizada pelo rótulo das "casas do Governo", mesmo que estas exijam, também, um esforço das famílias para uma primeira fase de arrendamento e depois a possibilidade de aquisição. Ainda assim, a única saída e não será para todos os que se encontram inscritos na Investimentos Habitacionais, bem como outros que venham a inscrever-se porque entretanto pretendem começar a sua vida e não encontram respostas no mercado privado normal.

O problema será evitar uma cidade de assimetrias preocupantes, uma espécie de Funchal "zona L(luxo)" de ricos e Funchal "zona R(remediados), dos novos pobres que correspondem à classe média baixa, porque os anteriores pobres poderão nem ter lugar nas casas do PRR.

Tenho a certeza que as dificuldades de casa para os madeirenses será um problema mais duradouro do que esta onda da construção de luxo. E por isso, compreendendo a importância do mercado em querer aproveitar enquanto está a dar, também é preciso não fazer uma política de "quem vier a seguir feche a porta".

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