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A Madeira perdeu influência na República

  • Foto do escritor: Henrique Correia
    Henrique Correia
  • há 39 minutos
  • 4 min de leitura


Vamos assistindo a meios anúncios com meias soluções e grupos de trabalho para resolver, ou engonhar, os assuntos pendentes. Há muito tempo pendentes. E estas metades são consideradas históricas. Pela Região.



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A Madeira autonómica foi sempre governada pelo PSD. Para o bem e para o mal, o PSD teve e tem todas as responsabilidades em termos de liderança, foi uma única governação, mesmo quando foi necessário partilhar com o CDS, uma aliança necessária, recente, que acabou por garantir que o PSD continuava a governar e que o CDS continuava a existir. No geral da estratégia, ficou igual, curtas cedências e até mais na base de lugares e não tanto das decisões. Foi necessário para o PSD, foi bom para o líder do CDS, José Manuel Rodrigues, cujo mérito do aproveitamento acabou por resultar numa carreira que há uns anos era inimaginável, para o próprio e para o resto.

A Região conheceu, no essencial, um partido na governação. E três presidentes do Governo: Ornelas Camacho de transição, Alberto João Jardim e Miguel Albuquerque. Em quase 50 anos de Autonomia, foi assim. Daqui se fez e se faz a História da Madeira autonómica, de lutas pela transferência de poderes, dos deveras da República relativamente ao reconhecimento dessa mesma Autonomia e de um direito (Região) e um dever (Estado) na medida da continuidade territorial. Foi um processo longo, difícil, continua a ser um processo longo e sobretudo muito difícil, como de resto era e é difícil para um País como este entender as Autonomias no quadro da unidade nacional sem que esteja subjacente um certo ar paternalista para o que considera excessos reivindicativos das ilhas. Nunca se perdeu este "pé atrás".

Depois da moderação e ponderação de Ornelas Camacho, numa fase transitória, com Alberto João Jardim, muito amigo da tese do inimigo externo para lhe dar força interna emanada do povo, a Madeira perdeu e ganhou. Jardim fica para a história da Madeira como o presidente do contencioso das Autonomias, uma espécie de dialética que visava manter a ideia de nós contra eles, dos ilhéus que lutam pela sua sobrevivência, dispostos a tudo, se fosse preciso ir a Lisboa a nado, numa metáfora  para dar corpo ao sentimento, para mostrar a resistência e a resiliência de um povo. Expressava essa disponibilidade, agitava essa bandeira e era um pouco como o tudo ou nada. A bem, ia tudo. A mal, ia tudo à frente.

Fez obra, fez dívida, deu luta e tentou aguentar-se mesmo quando já não tinha chão.

Mas Jardim, com todos os defeitos, com toda a prepotência que o impedia de ouvir vozes avisadas, um comportamento que lhe era conferido pelo excesso de poder e anos a fio de gente que o rodeava na base do "sim" e que depois o escorraçou junto do líder seguinte, acabou por ter os méritos que todos reconhecem, até os maiores adversários. E um desses méritos, também dos seus governos, foi o poder institucional que tinha para com a República, mesmo com governos diferentes, e até com vantagens em governos do PS.

A Madeira já teve um peso institucional, muito maior do que tem hoje, junto das instituições da República. E mesmo sendo preciso resistir à ideia que nesse tempo é que era bom, não era de todo, há coisas e más em todos os tempos de governação. Mas na realidade, em matéria de relacionamento com a República, a Madeira já teve maior capacidade de negociação, de articulação e de concretização. É verdade que os líderes são diferentes, cada um com o seu estilo, mas fazendo parte da máquina do PSD em Autonomia, não esqueçamos, mas há hoje um maior distanciamento e um processo de interligação mais distante, a Madeira tem deputados na República mas não tem ninguém de peso junto do Governo. E no Governo Regional, além de Albuquerque, não tem alguém que se afirme como um interlocutor que a Madeira precisaria junto dos gabinetes da governação nacional. E isso pesa. Ou melhor, não pesa.

Miguel Albuquerque é diferente de Jardim, um estilo mais brando. E para falar madeirense, não tem a "pachorra" de Jardim e o seu poder de luta, com conhecimento político das políticas nacional e internacional. Nem o carisma. Albuquerque tem igualmente trabalho feito, tem as suas virtudes, é um líder que beneficia muito da falta de oposição, mas tem efetivamente uma falha na estratégia de comunicação com a República, não de contactos pontuais, mas de presença quase permanente na República. Não tem e devia ter.

Sendo assim, vamos assistindo a meios anúncios com meias soluções e grupos de trabalho para resolver, ou engonhar, os assuntos pendentes. Há muito tempo pendentes. E soluções que outrora eram entraves da República para com as Autonomias, são hoje apresentados como conquistas negociais. E quando um grupo de trabalho é criado em cima de outro que as ilhas já desenvolveram, relativamente à revisão da Lei de Finanças, está quase tudo dito sobre as intenções e a noção de tempo.

É pena que seja assim. É pena que este "empurrar com a barriga" por parte da República seja visto, pela Região, como a Madeira de "barriga cheia". Como disse Albuquerque, participar num conselho de ministros foi "um passo histórico". É uma forma de ver as coisas.

Às vezes, o mesmo partido na República não dá muito jeito...por muito jeito que se dê à retórica.


 
 
 

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