Neste momento, é imprevisível a real consequência política para Miguel Albuquerque, mas nem tanto pela estratégia técnica de combate aos incêndios, que também está sob escrutínio, mas muito mais pela retorno às férias no Porto Santo. Foi um dia "fatal".
Os incêndios ainda têm frentes ativas e já se nota um "rescaldo político" no horizonte que não augura nada de bom para a estabilidade governativa nem para o equilíbrio parlamentar de forças no sentido de criar condições de governabilidade. As sucessivas e fortes críticas de partidos que têm sido, até agora, o principal suporte do Governo de Miguel Albuquerque, mesmo tendo em conta que qualquer deles, CDS, CHEGA e PAN, nem sempre articulam o que dizem com o que fazem, poderá indiciar um início de Sessão Legislativa que pode muito bem acabar com a queda do Governo e a convocação de eleições. E a última coisa que Albuquerque quer, neste momento, é ir a eleições depois destes fogos. Não pode dizer o que dizia há um mês quanto a não ter medo de ir a votos.
Nunca houve uma incerteza tão grande relativamente ao retomar da atividade parlamentar no início de nova Sessão Legislativa. É verdade que o centro da decisão política passou a ser o Parlamento há algum tempo e ainda mais depois das últimas eleições, mas agora junta-se a habitual divergência de pontos de vista diferentes sobre medidas e decisões, que podem ser negociadas com acordos visíveis e invisíveis, para acrescentar agora um "cartão amarelo avermelhado" político ao líder do Governo, e ao secretário da Saúde com a tutela da Proteção Civil, mesmo que Albuquerque tenha vindo a desdobrar-se na excelência da estratégia, na certeza do tudo certo e na cegueira da avaliação relativamente a uma certa sobranceria, que muitos chamam de arrogância, em determinadas situações que quase já constituem imagem de marca da sua conduta de governação que só a resistência e persistência pessoais, e a mecânica de poder absoluto, têm evitado males maiores que seriam a interrupção da hegemonia, cada vez menos hegemónica, da gestão do PSD.
A retoma dos trabalhos parlamentares será, por isso, determinante, para a avaliação política de Albuquerque nesta conjuntura recente. Se se confirmar a tendência que pode conduzir a uma moção de censura, posição reforçada pelo líder nacional do CHEGA, ainda que remetendo a decisão para a estrutura regional, poderemos reentrar numa conjuntura de novas eleições antecipadas para 2025, cumpridos os seis meses seguintes às eleições em que não pode haver dissolução da Assembleia Regional, o que remete para novembro.
Neste momento, é imprevisível a real consequência política para Miguel Albuquerque, mas nem tanto pela estratégia técnica de combate aos incêndios, que também está sob escrutínio, mas muito mais pela retorno às férias no Porto Santo. Foi um dia fatal, uma decisão politicamente infeliz, a que se junta outra "infelicidade" de Pedro Ramos, que justificou o regresso à ilha dourada porque tinha que fechar a casa de férias. Como se os destinatários dessa mensagem fossem destituídos ao ponto de não questionar o governante sobre a cinquenta formas de fechar a casa mantendo-se junto das forças no terreno. São situações tão frágeis e de uma argumentação tão primária que até custa a acreditar como possível em pessoas com a experiência que se reconhece, profissional e politicamente.
É assim inevitável projetarmos uma retoma difícil para Miguel Albuquerque e o seu governo. Acrescentou descontentes aos que tinha, começa a ser difícil defender e argumentar, como historicamente sempre fez o PSD, com os "ressabiados", os aproveitadores políticos e, agora, os "manipuladores com pezinhos de lã".
Sendo verdade que o mundo virtual da comunicação trouxe novos desafios, também desvirtua realidades, e faz passar, de forma inaceitável, toda a libertinagem de acusações pessoais de nomes impróprios, confundida com liberdade de expressão, também é verdade que estes novos meios de comunicar trouxeram espaços credíveis de crítica e de despertar consciências para situações que os ditos órgãos de referência não publicam por estarem "presos" a cumplicidades e a apoios que determinam se publicam ou se fecham.
Mas hoje, é muito mais difícil, mesmo impossível, controlar toda a comunicação. E esse é mais um problema para ser enfrentado pelos políticos, que bem têm tentado calar a informação que não controlam a pretexto da defesa da liberdade de expressão e da comunicação social de referência. Como se houvesse independência de órgãos de recebem milhões de euros através de contratos mensais de milhares com as secretarias, com institutos públicos, além do MEDIARAM, que no meio do resto é uma ninharia de 300 mil.
Por tudo isto, e por muito mais, a grande "prova de fogo" para Miguel Albuquerque, do ponto de vista político, é já ali perto.
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