Secretário-geral José Prada segura as "pontas" das bases mas várias "fontes" garantem haver um sentimento de "abandono" das cúpulas relativamente ao partido
"Fontes" internas lembram que a presença de Calado ficou praticamente circunscrita à vinda de Luís Montenegro e ao comício do Funchal.
A Coligação venceu em todos os concelhos, ganhou 52 das 54 freguesias e foi globalmente o vencedor da noite eleitoral. Mais votos, mais mandatos, sem maioria absoluta. Estes são alguns dos factos que Miguel Albuquerque invoca para ter legitimidade de governar através de uma solução que, neste particular, assentou num acordo de incidência parlamentar com o PAN.
Mas independentemente disso, há um outro facto que não mereceu ainda o debate nos órgãos do PSD, mas que tem vindo a ser debatido pelos corredores e pelos polos de opinião que pululam nas estruturas partidárias mesmo num enquadramento de partido vencedor. O PSD ganha mas está longe da tranquilidade relativamente à erosão que vem sofrendo desde 2019, o que num outro partido qualquer não seria problema, mas no PSD dominador de poder assume contornos sobretudo com as leituras que começam a ser feitas na forma como a convivência governativa e partidária tem decorrido, sabendo-se que Miguel Albuquerque tem vindo a negligenciar a vida partidária em favor da vida governativa. As estruturas intermédias acham que Albuquerque podia estar mais presente ba vida do partido e estas eleições mostraram algumas realidades que até poderão estar ligados a alguns resultados.
Fontes ligadas ao processo das estruturas intermédias do partido, garantem algum desconforto, que já será do conhecimento de Albuquerque, no que se prende com uma certa inércia da concelhia do Funchal liderada por Pedro Calado e que não reuniu uma única vez para preparar estratégias para as eleições, nem tão pouco manteve contactos locais. Dizem mesmo ter causado alguma estranheza a falta de participação de Calado em iniciativas partidárias no Funchal, exceção quando Luís Montenegro esteve na Região ou no comício do Funchal, verificando-se uma visibilidade maior em inaugurações ou visitas oficiais na sua condição de presidente da Câmara.
Os resultados do Funchal também não ajudaram muito, a perda de votos poderia ter dado para mais um deputado, embora não se possa inferir que foi essa reduzida mobilização, segundo entendimento dos críticos, a ter única responsabilidade nesses mesmos resultados - 22.412 votos em 2023 (PSD/CDS); 22.408 PSD + 3.466 CDS= 25.874 em 2019. Diferença de 3.462.
Diversos setores do PSD apontam alguma falta de mobilização na preparação da campanha e avançam mesmo situações em que foi o secretário-geral a segurar as "pontas" para que a programação não falhasse face a esta situação que configura alguma secundarização da máquina partidária.
Na generalidade, havendo o reconhecimento na liderança de Miguel Albuquerque, constata-se uma menor paciência por parte do líder, mas sobretudo uma atitude que vai na linha de declarações já conhecidas do próprio Albuquerque no sentido de decidir, acertar e só depois os órgãos do partido são chamados a dizer que sim, não a debater. Se isso já acontecia antes, é agora ainda mais visível.
Neste contexto, não caiu bem as "peripécias" à volta da escolha dos secretários regionais, designadamente as ocorrências com Humberto Vasconcelos. Miguel Albuquerque desmentiu uma notícia do Diário dando conta que o líder do partido tinha dado como certa a continuidade do governante na Agricultura e depois escolheu Rafaela Fernandes que liderava o SESARAM, mas a verdade é que essa situação existiu mesmo e até Susana Prada, que há algum tempo já tinha manifestado interesse em sair, sabia que era Humberto Vasconcelos quem ia ficar com a Agricultura mais o Ambiente. A surpresa foi, por isso, total, com a escolha a recair sobre a ex-presidente do conselho de administração do Serviço Regional de Saúde.
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