O rating da Madeira debaixo do "chapéu" do Estado
- Henrique Correia
- há 17 horas
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Antigo deputado da IL Nuno Morna desmonta solidez orçamental: "Esta região só se aguenta porque Portugal garante que, em último caso, cobre a despesa, honra a dívida, paga as contas".


O antigo deputado da Iniciativa Liberal, Nuno Morna, saiu do Parlamento, da Política ativa, mas a Política não saiu dele e, por via da origem da palavra, está a exercer o seu direito cívico que compreende a missão de cidadania ativa. Fá-lo com intervenção pública e estuda os assuntos em profundidade, dá trabalho, mas propõe conteúdo, além de desmontar cumplicidades que as mensagens públicas de comunicação encerram através de vários meios.
A última, ou uma das últimas posições, prende-se com uma notícia do Diário, naturalmente veiculada como "primeira mão", mas por "mãos" internas do Governo, referindo que a agência de rating Fitch reconhece solidez orçamental da Região. Pois bem, Nuno Morna diz que entrou a fundo na avaliação destas classificações e concluiu que a análise, a notícia com meia verdade, como diz, resulta do facto de a Região estar debaixo do "chapéu" do Estado.
O ex-parlamentar Liberal, que enquanto deputado mostrou trabalho, refere que "a Fitch, a tal agência que surge como selo de autoridade, atribuiu à Madeira o grau de investimento BBB+. Isto não é mentira. Mas é uma verdade amputada. Porque a Fitch não faz a avaliação como quem olha para um corpo isolado. A Fitch olha para a Madeira e escreve: "esta região só se aguenta porque Portugal garante que, em último caso, cobre a despesa, honra a dívida, paga as contas". Sem essa garantia, sem essa mão que vem de Lisboa, o chamado "perfil de crédito autónomo" da Madeira ficaria vários níveis abaixo. Isto significa, de modo muito simples: a Madeira, por si, não tem capacidade para este rating. Tem-no porque o Estado a segura".
Refere, ainda, que há outro silêncio: em 2023 e 2024, enquanto se fazia propaganda ao BBB+ da Fitch, a Moody's, que é também uma das quatro grandes agências, mantinha a Madeira no lixo financeiro. Ba1, um nível abaixo do investimento. Em linguagem simples: para a Moody's, a Madeira ainda não era digna de confiança suficiente para os investidores arriscarem o seu dinheiro sem receio. Só em 2025, depois de dois anos consecutivos de saldos positivos, é que a Moody's cedeu e colocou a Madeira em Baa3. Mas na altura, o Governo e os jornais preferiram omitir esta informação. Porque não encaixava na narrativa de sucesso.
A dívida, outro capítulo. Fala-se como se estivesse domada. Não está".
E, assim:
"A comunicação social local, dependente, repetidora, publica apenas a versão oficial. Não questiona. Não contextualiza. Não explica que a Fitch depende do apoio do Estado, não explica que a Moody's via lixo, não explica que a dívida continua desmesurada, não explica que as receitas são frágeis. O cidadão lê a manchete e acredita. Acredita porque quer acreditar, porque é mais confortável pensar que vivemos numa Região sólida do que enfrentar a fragilidade estrutural em que estamos.
E é aqui que se instala o logro. Não é mentira. É pior: é meia-verdade. É escolher a parte que dá jeito e apagar a parte que incomoda. É propaganda mascarada de notícia. E é por isso que este discurso não serve para esclarecer ninguém. Serve para manter o poder, para alimentar a ilusão, para legitimar quem governa".
E conclui: "No fim, a Madeira não conquistou a confiança dos mercados por mérito próprio. Conquistou-a porque Lisboa garante, em último caso, que as contas são pagas. Esse é o alicerce. Sem ele, a solidez cai. E enquanto não se explicar isto, enquanto não se ensinar isto aos cidadãos, o que temos é uma repetição infindável da mesma farsa: manchetes com medalhas de papel, propaganda travestida de rigor'.
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