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Foto do escritorHenrique Correia

Os governos deviam ficar só em gestão corrente depois de marcadas as eleições



Há uma autêntica "corrida" às contratações, às colocações, às transferências de funcionários, às inaugurações à pressa, sempre foi assim, continua assim. Estava mal, continua mal.



A experiência adquirida de 35 anos de jornalismo profissional, mais os outros que tenho seguido, de forma descomprometida, mais leve, mas não menos "profissional" na entrega e responsabilidade, permite-me dizer que em Política tudo é possível. Até mesmo o que não é. E nao vale a pena virem com a conversa da legalidade cumprida e dos procedimentos que já vi muita coisa acontecer, e ainda sei e vejo alguma, que é "ilegal" em "toda a linha" e acontece na "linha toda". E ninguém é chamado a contas nem perde cargos por isso. Há sempre uma forma para o que se quer dar forma. E a Política consegue isso.

Esta contextualização serve precisamente para refletir sobre as eleições, independentemente de serem nacionais, regionais ou locais. E refletir sobre o que fazem os governos no período que antecede essas eleições. O que fazem de contratação, às centenas, às vezes milhares, à colocação de trabalhadores que estão destacados do privado e ainda não têm vinculo público, aos concursos públicos que "chovem" todos os dias, em todas as áreas e departamentos, aos apoios a tudo quem pede, às promessas que superam os pagamentos, e a tudo o que não se sabe cá fora mas sabe-se lá dentro.

Claro que ninguém fala nisto, do ponto de vista político partidário, por não interessar falar, por estarem todos comprometidos com o sistema, cada qual no seu burgo, mas abrangendo várias forças políticas. Mas a verdade é que o regime devia encontrar um ponto de equilíbrio no sentido de fazer uma alteração fundamental sobre aquilo que os governos podem fazer em período pré eleitoral. Em eleições legislativas, nacionais e regionais. O mesmo para as Autarquias quando forem eleições locais.

De facto, há uma autêntica "corrida" às contratações, às colocações, às transferências de funcionários, às inaugurações à pressa, sempre foi assim, continua assim. Estava mal, continua mal.

Seria importante, sobretudo em nome da transparência e da prevenção para conluios e pressões, diretas ou indiretas, que os governos tivessem a sua ação reduzida à gestão corrente sem envolver decisões de fundo, excetuando o andamento de obras em curso ou situações em que os prazos obrigam a decidir neste período pré eleitoral. Os governos podem mostrar a obra feita na mesma, mas novas decisões sobre iniciativas futuras só poderia ser iniciadas antes do Presidente da República marcar a data. E nenhum membro do Governo poderia nomear seja quem for para reforçar o gabinete a menos de dois meses das eleições. Só agora é que deu pela falta de recursos humanos? É preciso haver alguma ponderação mesmo quando a lei não impede, mas devia impedir.

É a história da mulher de César...

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