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  • Foto do escritorHenrique Correia

Os "tiques" que abril não tirou



Será que hoje, em determinados domínios, temos liberdade sem sermos livres? Será que alguns métodos da Ditadura não se transformaram em variantes da Democracia?



Imagem DR.


A liberdade entendida na génese do 25 de abril de 1974 é uma conquista inalienável dos portugueses, que deve ser preservada, alimentada e defendida em todos os atos da nossa vivência diária a caminho do futuro, trespassando gerações com conhecimento, com testemunhos, com a verdadeira história da transição do Estado Novo para a Democracia, permitindo que as memórias não deturpem a realidade, que a história se faça com rigor e que as gerações pós abril possam ter uma consciência plena do que foi a Ditadura para poderem perceber o valor da Democracia.

O 25 de abril de 74 foi de uma importância vital enquanto destituição de um regime gasto pela ação política de repressão e pela ação psicológica que limitou direitos e restringiu vidas durante mais de quatro décadas. Abril foi importante para dar esperança de presente, de futuro, sem perder de vista esse passado que não podemos esquecer porque convém sempre não esquecer o que não queremos.

Mas será que estamos, hoje, a cumprir abril no objetivo de exercício das liberdades e responsabilidades, dos direitos e dos deveres, da transparência sem conluios para interesses obscuros e políticas de grupos, pouco claras, tendo como base os partidos e não o País, tendo como suporte uma parte para domínio do todo?

Sabemos, hoje, defender os valores que representam abril? Será que as gerações pós abril estão verdadeiramente conscientes dos valores em causa e da necessidade de termos presente uma permanente luta de pequenos gestos de consolidação de abril? Será que o conceito de liberdade, hoje, tem a ver com aquilo que abril pretendeu defender? Será que hoje, em determinados domínios, temos liberdade sem sermos livres? Será que alguns métodos da Ditadura não se transformaram em variantes da Democracia? Com o perigo que essa "camuflagem" implica? Será que nos habituámos a uma espécie de serviços mínimos da Democracia para que a partidocracia floresça e ganhe uma força que não devia ter e só de vez em quando pede a força que só o povo pode dar naquele ato único em que (ainda) pode intervir.

É preciso lembrar abril de 74, é preciso pensar abril de 74, mas é preciso sobretudo termos abril todos os dias, de liberdade e de responsabilidade, de governantes e governados em atitude adulta perante um direito adquirido em processo revolucionário pacífico por um bem maior que alguma ditadura da Democracia tem vindo a adulterar pela gestão do poder.

Abril ainda não resolveu o exercício arbitrário dos poderes nem a prepotência de um corporativismo partidário e governativo, em vários quadrantes, que não só não privilegiam a escolha dos melhores, como tem atitudes que no tempo do Estado Novo teriam certamenre um nome, através de saneamentos seletivos (já nem falo nos de confiança política), afastamentos estratégicos, vidas destruídas, não pelo regime, mas por pessoas disfarçadas de normais mas com a veia bem latente do seguidismo, da seleção relativamente aos que pensam diferente até mesmo os que são iguais. As estruturas foram ganhando esta gente na liberdade que a liberdade lhes deu. Um conceito que se confunde com abril mas que podia ser de um maio qualquer.

Não, ainda não cumprimos abril em muitas vertentes da sociedade. Mas não é por isso que devemos deixar de cumprir abril de 74 lutando e falando sobre os efeitos, positivos, da luta da Democracia, da Autonomia. Lutar Sempre. Desistir Nunca.


"Somos um povo que cerra fileiras,

Parte à conquista

Do pão e da paz.

Somos livres, somos livres,

Não voltaremos atrás"


(Passagem da canção Somos Livres, de 1974, interpretada por Ermelinda Duarte com arranjos de José Cid)

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