PS-M parece "talhado" para fechar "janelas de oportunidade"
- Henrique Correia
- há 5 horas
- 4 min de leitura
Parece até que um fraco partido está a tornar fraca a forte gente que ainda existe.

O Partido Socialista, na Madeira, está em processo contínuo de queda. E na verdade, há uma certa dificuldade em apontar uma só razão para que isso aconteça, há várias, umas internas, outras externas. As internas com uma estratégia pouco "musculada", de fraca denúncia, algumas escolhas menos felizes e permanente crispação de determinados quadros sobre os líderes, grupos de pressão, cujas críticas assumem grandes proporções e são potenciadas, também, pela falta de lugares a distribuir, tratando-se de um partido que, na Região, nunca foi poder. E isso dificulta os "boys" e os eternos candidatos. As externas, que são comuns a outros partidos da oposição, têm a ver com o domínio do PSD-M através da máquina governativa, local e regional, contra o qual o PS nunca conseguiu encontrar solução, não só de se assumir alternativa, como o eleitorado sentir essa alternativa. A mensagem não passa. E é grave.
Mas é um declínio tão acelerado que, pela inércia, dá a sensação que ninguém se interessa muito se o caminho vai dar a algum lado ou ao precipício, se o descalabro nas Regionais terá reflexos nas autárquicas, gerando uma dúvida lógica sobre se uma metodologia igual dará resultado diferente. Mesmo sendo eleições diferentes.
Há uma rejeição antecipada no eleitorado como se não visse, ali, qualquer solução eficaz para quem vê o futuro com alternativas. Parece até que um fraco partido está a tornar fraca a forte gente que ainda existe, o que é problemático, também nas próximas eleições, sobretudo por serem para o Poder Local, onde o PS até conseguiu governar, designadamente no Porto Moniz, Ponta do Sol e Machico. E com reconhecimento da população, na altura em que o PS-M ainda não tinha o desgaste de hoje.
É mau para a oposição o PS estar na posição em que está , é péssimo para o Governo, para qualquer governo, que governa melhor se tiver uma melhor oposição, se tiver um PS melhor, é um dos partidos base da nossa Democracia. Mas aqui, está como quase sempre. Mas agora como nunca, por ter passado a terceira força política na representação parlamentar. Uma descida acentuada e muito difícil de recuperar.
O lado mais fácil é responsabilizar o líder, no caso Paulo Cafôfo. Oxalá que a solução futura do PS-M estivesse só em Paulo Cafôfo. Seria fácil se tudo fosse resolvido com a saída do líder e não tardaremos a saber isso depois das autárquicas, tempo definido para dar início a um processo eleitoral interno, reconhecendo as consequências dos resultados.
Não estamos certos que a saída de Paulo Cafôfo seja a solução para todos os problemas do PS na Madeira. Não esqueçamos que ele obteve uma vitória para o PS no Funchal e o melhor resultado socialista em Regionais, em 2019. O problema é que o PS, na Madeira, é um partido sem histórico de poder e, por isso, é um partido com janelas de oportunidades, mas que as fecha sempre que alguém as abre. Uma questão estrutural, que vai sacrificando sucessivos líderes, mas que não tem apenas os líderes como responsáveis. "Rola a cabeça" de quem está no palco, de quem está a dirigir a peça, mas era bom ir pensando em fechar a porta a alguma plateia que só vai ao espectáculo para ver o protagonista cair. É um mal antigo dos socialistas, uma quase fatalidade, que no fundo tem impedido os avanços de potenciais candidatos válidos, o que obriga a escolhas de recurso, como nas próximas autárquicas, num momentos em que se abriram algumas "janelas de oportunidade" que o PS-M se prepara para fechar. De novo.
Paulo Cafôfo não conseguiu o que se pensava. Por culpa própria, mas também por culpa das movimentações internas, que "atropelam" o partido sempre que há um candidato novo. Mas a verdade é que apesar de Cafôfo não ser tão mau como se diz, é ele o homem a sacrificar, teve um mau resultado e devia ter saído logo, não podia ter permitido que esta letargia se arrastasse para as eleições autárquicas. A pretexto de uma falsa estabilidade. Há coisa mais instável do que mobilizar equipas sobre os "escombros" partidários? Sem base sólida de construção e com uma forte possibilidade de, num contexto destes, não aparecerem os melhores para fazerem melhor, o líder "arrasta-se" até ao fim em nome de uma estratégia que pode trazer mais problemas do que soluções. Nunca sairá por cima, mas deixar o PS no fundo dos fundos, não parece ser bom para ninguém.
Agora que o JPP passou a liderar a oposição na Madeira, precisamente por fazer uma oposição incisiva e tocando em assuntos que o levaram a marcar a agenda sem que o PS fosse além de espectador ou sem chama, caberá ao novo líder uma tarefa hercúlea de recuperar o que parece irrecuperável.
Se o PS-M insistir nos mesmos e com a mesma filosofia, a recuperação pode passar de difícil a impossível.
Vamos ver o que (não) acontece...
Comentários