Henrique Correia
A pandemia, as medidas e o "poder de encaixe"
Não é facil para os governos. Mas também não é por isso que estão isentos de críticas, obviamente quando são justas e sem carga partidária à mistura, que normalmente tolda raciocínios e impede a clarividência pelas mensagens objetiva

Política à parte, que condiciona sempre as avaliações de acordo com os remetentes das mensagens, todo o processo relacionado com as medidas adotadas pelos governos é complexo num quadro como este, muito mais emocional do que racional. Não há nada mais difícil de gerir do que a Saúde. Nem as finanças, que por acaso, para grande surpresa minha, até tem respondido bem, não sei como é que há tanto dinheiro para tanto apoio e sem apoio de Lisboa, como dizem. Mas ainda bem, que perdure este pacote, cujo fundo parece não haver, por muito mais tempo. Há muita gente a precisar, até gente que antes tinha a vida equilibrada.
Não é facil para os governos. Mas também não é por isso que estão isentos de críticas, obviamente quando são justas e sem carga partidária à mistura, que normalmente tolda raciocínios e impede a clarividência pelas mensagens objetivas que neste contexto são sempre mais recomendáveis. Este é o pior momento para aproveitamentos políticos, por muita tentação que a própria conjuntura, de uma medida menos feliz, menos eficaz, possa apelar nessa estratégia de quadro político, ainda por cima em ano de eleições autárquicas.
O Governo Regional, na sua globalidade, tem atuado num patamar positivo nesta luta contra a Covid-19. Os testes no Aeroporto, a contratualização de laboratórios no cobtinente, a dupla testagem mesmo com algumas tibiezas, foram determinantes para a contenção da doença, numa primeira fase e mesmo agora. O próprio presidente do Governo liderou este processo com firmeza, colocando o chamado "dedo na ferida" em muitas situações, assumindo as pessoas e a saúde em primeiro lugar, o que é importante nesta conjuntura.
Mas como já disse, politiquices à parte, porque isso não interessa nada ao povo, essa postura positiva do Governo não lhe pode subir à cabeça, aqui não há créditos de reserva, eles constroem-se todos os dias. E não é uma postura de pedestal que vai resolver as situações. Não é com enfado de alguns setores governamentais, perante as críticas, com a argumentação que no continente é pior e que, por isso, quem lança dúvidas, deve virar-se para lá - perspetiva político partidária pura - e deve estar calado cá, que a situação será melhor ou pior por estes lados. Não é por aí. Com o mal dos outros, podemos bem. A avaliação primária que lá morrem 90 e aqui só morrem 2 de vez em quando, é demasiado primária para ser admitida. Nem que houvesse uma morte, seria mau na mesma. E isso não pode ser entendido como estando contra os governos.
Dentro disto, Miguel Albuquerque tem andado, geralmente, bem. Mas como qualquer líder, em democracia, sobretudo num quadro em que não é possível controlar os espaços de comunicação que hoje existem, uns mais credíveis do que outros, está sujeito à opinião, à crítica.
Por exemplo, tenho muitas dúvidas da eficácia de ultimatos avulso, sobre incumprimentos em centros comerciais, sem enumerar quais, a bares sem se saber onde, a ajuntamentos sem se saber de quem, sobretudo se ficarem de fora outros avisos a quem faz o mesmo mas "pega mais duro" para outros negócios que foram necessários e que serão necessários. Era melhor, antes de meter tudo ao barulho, ter mandado a fiscalização atuar face aos prevaricadores e comunicar o resultado disso. Mas são opções, respeitáveis, mas suscetíveis de serem avaliadas numa sociedade democrática.
Para mim, é completamente indiferente que os ajuntamentos tenham lugar num hotel de um grande empresário, no espaço de um empresário de bares da noite, num restaurante da A ou B ou de um centro comercial, numa matança do porco ou de uma festa qualquer. Se é para cumprir, é para todos. Não é para haver avisos cirúrgicos conforme o "freguês". É avisar todos e pronto. Sabemos que não é assim, o homem do porco não pode ajudar tanto e por isso, se calhar leva mais pela " medida grande".
Já que falamos nisso, que tal um "puxão de orelhas", não público para "doer menos", à empresa Horários do Funchal, que não está a cumprir a lotação permitida nos autocarros.
É verdade que era mais fácil resolver se Miguel Albuquerque andasse de autocarro. Mas mesmo assim...