Se não houver maioria absoluta e a oposição levar ao Representante um entendimento com 24 ou mais deputados, poderemos ter Governo tipo "Geringonça" na Madeira. Pela primeira.

Miguel Albuquerque não consegue esconder a preocupação. Não o diz claramente, mas as mensagens que vem transmitindo, quer em atos oficiais do Governo, quer em ações partidárias, que não raras vezes se confundem entre si, insiste num plano de sensibilização para a necessidade da maioria confortável, o que só acontecerá, para um PSD sozinho a votos, se for maioria absoluta, ou seja 24 deputados, faltam 5 para não depender de negociações e alianças. O que, convenhamos, não é fácil num contexto em que o eleitorado tem vindo a recusar uma maioria de um só partido, ainda que coloque o PSD como o mais votado.
Claro que a preocupação de Albuquerque faz todo o sentido. Pode ser muito resiliente, com uma teimosia/resistência muito grande, indiferente ao facto de liderar um Governo com quatro arguidos e mais dois no âmbito partidário, o secretário-geral José Prada e o militante Pedro Calado, mas tem a plena consciência que o resultado de 23 de março pode resultar em mais do mesmo, até porque não pode ignorar as consequências, que se farão sentir, inevitavelmente, no que se prende com a divisão interna que resultou dos últimos acontecimentos relacionados com o processo de pedido de eleições por parte do opositor Manuel António Correia, que tem a seu favor o apoio de metade do partido, o que pode constituir um forte obstáculo à obtenção da tal maioria absoluta necessária para responder ao tal governo de estabilidade.
O eleitorado, parte dele que não está comprometido com clientelas ou ligações familiares, de emprego ou de cargos, não gosta de assistir a manobras que possam ir no sentido do aproveitamento de prazos, de respostas tardias, tendo em vista dificultar qualquer oposição ao percurso que o líder traçou no sentido se se manter no poder com base numa crença de fidelização do eleitorado que vota PSD aconteça o que acontecer. Albuquerque está a gerir estas eleições no risco, é um pouco o "tudo ou nada", pretende transmitir uma ideia de versatilidade, de mobilização, de dimensão, com o objetivo de transmitir uma realidade que é menor do que parece.
Só que apesar de uma espécie de "fuga para a frente", Miguel Albuquerque sabe os riscos que corre e sobretudo para onde pode levar o PSD se não reunir votos suficientes para a maioria absoluta. Sabe o que uma pequena vitória pode significar, mesmo acreditando que o período pós eleitoral pode permitir negociações e promessas de cargos que permitam chegar a acordo com outras forças políticas, como aconteceu com o CDS nos últimos anos, em que o cargo da presidência da Assembleia Regional foi o garante da governação do PSD-M, apesar do último entendimento ter garantido o presidente da ALRAM para o CDS e, na prática, nada para o PSD.
E se o PSD ganhar as eleições sem maioria absoluta? E se o PSD, nessas condições, não consegue fazer alianças num quadro em que os partidos já disseram "com Albuquerque, não"?
Nessas circunstâncias, podemos ter um figurino nunca antes experimentado na Madeira, mas já visto na República e nos Açores, um Governo com base numa frente comum e um PSD na oposição mesmo ganhando eleições. E Albuquerque sabe disso, está a dar tudo para que isso não aconteça e está em curso, também, uma movimentação da "velha guarda", sem dúvida jardinista, mas que por razões estratégicas e de solidariedade geracional com os seus também sente que este momento pode não ser para perpetuar Albuquerque, mas é certamente para garantir o PSD no Governo.
Todos eles sabem o que aconteceu nas eleições legislativas nacionais de 2015, todos se lembram certamente o que há uns anos era impensável na Madeira e que hoje começa a ser hipótese. Em 2015, Passos Coelho, com o CDS, teve 36,6% dos votos. Tomou posse e foi destronado pela "gerigonça". Governou durante 15 dias.
Outros exemplos: Luis Montenegro Governo, em coligação com CDS e com os votos da Madeira : 28,84 %; Rui Rio sozinho (sem CDS) com os votos na Madeira : 28,58 %. Não foi Governo.
Por estas e por outras, está tudo de sobreaviso. E é de tal modo que o Representante da República já veio alertar para o período pós eleitoral, onde já foi acusado de ter pressa para resolver. Agora, para estas eleições, não haverá pressa, vai ouvir os partidos, como está previsto constitucionalmente, mas promete esperar o tempo que for preciso para encontrar um governo de estabilidade. Com o PSD ou sem o PSD, dizemos nós. Se não houver maioria absoluta e a oposição levar um entendimento com 24 ou mais deputados, poderemos ter Governo tipo "Geringonça" na Madeira. Pela primeira vez.
Albuquerque "sem medo" tem "medo" da sombra dessa "Frente". Também no "medo" pela primeira vez.
Comments