Henrique Correia
Carlos Pereira reage ao DN sobre pagamentos com dinheiro vivo, "ataca" o diretor e "salva" acionista
O presidente do Marítimo queria responder "com tudo" ao Diário, mas tinha um problema: Luís Miguel Sousa é presidente da Assembleia-Geral do clube e acionista do Diário. E, assim, só "apanhou" o diretor daquele matutino

O presidente do Marítimo, que como se sabe é Carlos Pereira, não gostou mesmo nada de uma notícia publicada pelo Diário de Notícias do Funchal, que noticiou alguns pagamentos feitos pelo clube, aos jogadores, qualquer coisa como 6,4 milhões de euros, através de uma empresa no paraíso fiscal das Ilhas Virgens. Uma "engenharia" que, claro está, teve o objetivo de fugir aos impostos, segundo revela o matutino, coisa para 1,6 milhões de euros. E, já agora, à Segurança Social também, menos, 559 mil. Obviamente, o líder da direção do Marítimo não gostou e reagiu, em comunicado publicado no site do clube.
Mas Carlos Pereira, no meio desta reação de "bola para a frente" contra o Diário, pensou duas vezes antes de articular o escrito de forma a atacar, por um lado, e a defender por outro. Neste "jogo" não há meio campo. E percebe-se facilmente porquê. O presidente do Marítimo queria "entrar com tudo" contra o diretor do Diário, Ricardo Miguel Oliveira, mas ao mesmo tempo tem um presidente da Assembleia Geral do clube, Luís Miguel Sousa, que é também um dos sócios do Diário, que certamente legitimou o nome de Ricardo Oliveira para diretor, supondo-se que, quem ataca um, leva com o outro, pelo menos devia ser assim. E achámos curioso como o presidente do Marítimo saiu desta. Ou pensa que saiu.
Carlos Pereira, sabendo disso, escreveu isto: "Enquanto estiver no DN um diretor anti-Marítimo e quiçá com uma clubite doentia, o DN terá sempre prazer em fabricar notícias difamatórias a um clube da nossa dimensão, normal na sua pequenez e oposto à grandeza de um dos seus bons acionistas, mas contrário aos princípios morais".
O presidente "verde-rubro" diz que "com esta publicação, o Diário de Noticias (DN) pretende fazer um julgamento em praça pública, promovendo assim uma difamação maldosa atentatória do bom nome e reputação das pessoas em causa, ignorando todos os efeitos colaterais dessa estratégia, quando a sentença (ou não) se irá fazer nos tribunais na devida altura...Como é do conhecimento público, todas as ações, decisões e registos foram e são devidamente monitorizados pelos órgãos de fiscalização independentes, sendo apresentados e aprovados em Assembleia Geral por todos os representantes da estrutura acionista. Relembra-se que no período em causa o CSM detinha 40% do capital social da Maritimo SAD, a RAM detinha outros 40% e os restantes 20% eram distribuídos por outros acionistas. Nunca nada foi decidido ou implementado à revelia dos grandes acionistas da Maritimo SAD. O que está em discussão, são direitos e práticas comuns a outros diferentes clubes".
O Marítimo refere, ainda, que "nunca é demais referir que o Marítimo SAD em 2016, no âmbito do PERES, optou por liquidar à Administração Tributária (AT) os valores que esta entendia ser devidos. Apesar do pagamento de 2,5 milhões de euros, os processos continuam a ser dirimidos nas instâncias judiciais, uma vez que o Marítimo não concorda com a interpretação dada erradamente como provados pela AT. Tal como foi comunicado na última Assembleia Geral aos seus acionistas, já existem decisões favoráveis ao Marítimo SAD, inclusive com reembolso dos valores pagos acrescidos de juros e noutros em que ainda se aguarda o respetivo reembolso. A Marítimo SAD tem toda a sua situação fiscal com a AT e com a Segurança Social (SS) regularizada com inexistência de qualquer dívida. Eventualmente poderá ser credora neste momento perante a AT".
Pelo meio, Carlos Pereira "meteu-se com o Nacional": "Não deixa de ser curioso o facto do Diário de Noticias nunca ter tido um comportamento minucioso quando foi o caso de outro clube, o CD Nacional. A suspeição que está tanto na capa como no interior do Diário (DN), sobre pagamentos em numerário não corresponde à verdade. Tal será provado, em sede própria, pois é o Tribunal o único órgão competente para, como representante do poder oficial do Estado, decidir os casos que processualmente sejam levados à sua apreciação".
E, claro, o Nacional também reagiu. CD Nacional esclarece que "o processo de que agora é alvo o CS Marítimo não tem nenhuma semelhança com o processo de que foi alvo o CD Nacional. Senão vejamos: O processo relativo ao CD Nacional dizia respeito a um valor de 75 mil euros. Bem abaixo dos 6,4 milhões. No processo relativo ao CD Nacional, nunca houve pagamentos em dinheiro vivo a ninguém..."
Um assunto interessante em que, por vezes, são mesmo necessários "golpes de rins". Com tão poucos acionistas com participação em muitas empresas chave, na Região, fica difícil, a uma empresa, atacar a outra sem esbarrar com o mesmo dono.