Henrique Correia
Falta mais algum radar?
É mais um radar que é preciso? Se for isso, é mais fácil de resolver do que se for uma falta de "radar" nas leituras que se fazem.

Tanto investimento em tecnologia, tanto conhecimento entretanto adquirido pelos estudos e investigações, tanta experiência observada pelas vivências e pelas especificidades da Região, mas de repente, apanhados de surpresa, a ilha tem destas coisas, chove muito em São Vicente, não chove no Caniçal, arrasa a Ponta Delgada e o registo de maior precipitação foi no Porto Moniz, porque não há registos num lado, mas há noutro. Falta sempre qualquer coisa e andamos, sempre, atrás do prejuízo. Muito por reação, pouco por ação. Devia ser laranja em vez amarelo, pois devia. Devia, mas não foi. O que foi até era para vermelho. E as previsões foram pela enxurrada abaixo.
Claro que depois dos acontecimentos é muito fácil apontar o dedo. Não podemos, num momento, dar um carimbo de irresponsabilidade a pessoas que têm uma carreira, nada fácil, e que nestes momentos estão submetidas a posições deveras complexas, sujeitando-se a comentários que as redes sociais amplificam de forma célere. Tudo isso é verdade, mas é preciso, também, que apesar disso, não fiquemos coibidos de abordar as questões que devem ser abordadas para um pequeno contributo no sentido de que estas situações possam ser prevenidas de uma forma mais eficaz. Quem tem essa responsabilidade deve assumir a responsabilidade, o que se passou no concelho de São Vicente foi de uma dimensão impensável, no nivel de precipitação e nas consequências, como derrocadas, uma casa que desapareceu, vários carros arrastados, uma espécie de 20 de fevereiro a 25 de dezembro, como ontem dizia o presidente da Junta de Freguesia de Ponta Delgada.
Foi deste homem do poder local que saiu o primeiro grito de revolta, que acabou por contribuir para acionar o "botão" da intervenção e dos apoios, através da presença do secretário regional dos Equipamentos e Infraestruturas, mas causando alguma estranheza a ausência do secretário regional com a tutela da Proteção Civil, apesar de ser possível uma explicação compreensível para isso, atendendo à época de Natal. Mas há plataformas digitais, através das quais podem ser feitas declarações mesmo estando fisicamente longe. Não sei se foi esse o caso. O presidente do Governo também podia ter dito qualquer coisa, embora o Governo tenha atuado rápido e bem. Mas há coisas que devem ser feitas.
Mas o mais importante é concentrar esforços nas operações de limpeza e na ajuda às populações. Mas é preciso, também, ver o que falhou, o que é preciso para evitar isso, futuramente, para que este tipo de situações, por muito que sejam difíceis de prever, não ocorram de tal forma surpreendente, que só conseguimos andar atrás dos desastres. Com a falta de confiança que isso representa nas instituições que têm competências para estas avaliações.
É bom ver o que falta, não para resolver tudo, porque isso é impossível, mas para não andarmos sempre a justificar com a falta de meios. É mais um radar que é preciso? Se for isso, é mais fácil de resolver do que se for uma falta de "radar" nas leituras que se fazem.