Este valor de 160 mil até pode ser colocado num patamar do "acessível" no sentido de ser mais baixo relativamente à prática do mercado. Mas inacessível a muita classe média e a muitos jovens dessa classe média.
Com o mercado livre de T1 a mais de 300 mil euros no Funchal, para mais e não para menos, a proposta hoje apresentada pelo Governo Regional de colocar disponível uma construção de 55 apartamentos, sendo dezasseis T1, 23 T2 e 16 apartamentos de tipologia T3, parece apresentar como "cara pachincha", para T1, uma proposta de 160 mil euros, menos 30% do mercado.
A verdade é que no caso em apreço, no caminho dos Saltos, em função do descontrolado mercado livre de habitação no Funchal, numa relação procura/oferta, os 160 mil euros por um T1 já se enquadra numa política pública de preços controlados e, como disse o presidente do Governo, para "pomover o acesso à habitação condigna e a preços acessíveis".
Acessíveis, como quem diz, quase acessíveis, talvez quase acessíveis a alguns jovens, dos que ganham como "gente grande" e com contrato feito, se for a recibos verdes os Bancos já pensam cinco vezes até pedirem fiador, num contraciclo com a sociedade que tem uma juventude que praticamente só trabalha a recibo verde. O mercado de trabalho está formatado assim, precário, o desemprego desce, a Política rejubila, mas os Bancos querem a segurança que os jovens trabalhadores não têm.
Claro que atendendo à contextualização do mercado imobiliário, onde o luxo inflacionou o núcleo central da cidade, mas também já da periferia e até em vários concelhos próximos e mais distantes, este valor de 160 mil até pode ser colocado num patamar do "acessível" no sentido de ser mais baixo relativamente à prática do mercado. Mas inacessível a muita classe média e a muitos jovens dessa classe média atendendo aos rendimento e à envolvência bancária exigida.
Não podemos deixar de relevar a ação do Governo na perspetiva de assumir uma política abaixo do luxo a que chama custos controlados, que realmente, apesar dos preços ainda assim elevados, estão abaixo do mercado hoje vigente. E não podemos criticar as entidades públicas de falta de políticas e depois criticar por haver. A questão não é essa, o problema é estarmos a assistir a um contexto especulativo, a pretexto da guerra, que naturalmente até já altera os conceitos de custos controlados.
O Governo faz bem ter estas propostas. Mas talvez seja excessivo considerar "preços acessíveis". E quem sabe, sabe as razões de ser excessivo o acessível.
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