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  • Foto do escritorHenrique Correia

Muito "pobre" a avaliação da pobreza


Há mais gente pobre, o leque é cada vez maior, há mais gente de mão estendida mas escondida dentro de cada. Gente envergonhada, a precisar mesmo, sabem?


Foto Fernando Alves/Olhares


O debate à volta da pobreza acaba, quase sempre, por ter contornos político partidários, sendo que logo por aqui temos considerações e avaliações enviezadas relativamente ao que realmente se passa nas sociedades, designadamente na sociedade madeirense, que efetivamente é aquela que nos interessa.

E partindo desse tipo de debate, como aquele que ocorreu recentemente na Assembleia Regional, temos inevitavelmente um quadro "vicioso", de números e estatísticas, com o qual se regem os governos quando serve a teoria para encaixar na prática que querem, mas que raramente nos dá o enquadramento real da situação. Simplesmente porque não há estatísticas da situação real.

Não sei se a pobreza aumentou, a pobreza entendida no nosso antigo conceito de pobre, sem rendimento, sem abrigo, pedinte, embora a olhos vistos tenhamos a sensação que até essa aumentou. Mas uma coisa tenho a certeza, do senso comum, do que conheço e vou sabendo todos os dias, da realidade portanto: há mais pobres e há sobretudo, e isto é que é ainda mais grave, uma faixa de pobreza que tem o seu trabalho, em alguns casos com horários de 14 horas, mas cujo montante que auferem não chega para viver. Ao conceito de ser pobre entendido por aquele que não tem dinheiro para comer temos que acrescentar aquele que não tem dinheiro para viver minimamente de forma digna para fazer face a despesas elementares. Há mais gente pobre, o leque é cada vez maior, há mais gente de mão estendida mas escondida dentro de cada. Gente envergonhada, a precisar mesmo, sabem?

E por muito que sejamos sensíveis ao fim da subsídiodependência num modelo entendido, às vezes de forma primária como alimentando vadios, acabamos por compreender o seu caráter decisivo para muitos que, trabalhando - não são aqueles malandros que os políticos falam que não querem trabalhar - recorrem às ajudas disponíveis para equilibrar a contabilidade diária de despesas mínimas. E é evidente que há os que não querem trabalhar, como também há empregadores que querem muito para pagar pouco a pretexto da criação de postos de trabalho. E sabemos bem que, também entre empresários, há os que querem muito trabalho por pouco ordenado. Porque ser empresário só é preciso ter capital, em muitos formação zero. O que ganha peso em contextos de crise e na "ditadura" do euro e do custo do trabalho nivelado por baixo.

É por isso que é preciso ir à raiz do problema. Há mais pobres, há uma pobreza que se vê sem se ver, que morre lentamente neste quadro de pobreza de espírito que dostorce a realidade para dar corpo à ficção de quem faz da política um conceito simplista da leitura de números.

Que pobreza...

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