Os "criadores" do CHEGA queixam-se do CHEGA...
- Henrique Correia

- 27 de out.
- 4 min de leitura
Ventura tem mérito mas o outro grande mérito é do PSD e do PS com períodos desastrosos de governação. O povo fartou-se e o resultado é este...Não há nada de ideológico, há é de copo cheio.

O CHEGA é um projeto político recente na Democracia portuguesa. Como tantos outros, que foram surgindo ao longo dos tempos, por razões conjunturais, com maior ou menor peso, mas entretanto desaparecidos da intervenção partidária.
Mas o CHEGA é diferente, na origem, nos criadores, naquilo que é em tão pouco tempo, o líder da oposição. Mas sobretudo tem um líder inteligente e esperto, são conceitos diferentes, mas ele tem os dois, além do mais é autosuficiente no seu universo, é pouco para dar corpo militante que corresponda aos votos, mas vai dando abalar este contexto político e as vitórias sempre vão trazendo alguns quadros e a radicalização também muda quando se está no Poder, seja ele qual for.
O CHEGA, acima de tudo, percebeu a via do discurso fácil para chegar o mais distante e conseguiu oficializar, com representatividade formal, as conversas de café, superficiais, de circunstância, mas que efetivamente preocupam as pessoas, no café as conversas aliviam a pressão, chama-se "nomes" aos políticos, defende-se a polícia, critica-se quem recebe subsídios e não faz nada e ainda ganha mais do que gente que trabalhou a vida inteira, fala-se de bola, menos de Fátima e de Fado, a não ser o nosso "fado" de País sempre à procura de rumo. Fala-se de doenças e de saúde, da que não há, daquela que precisa de serviços e não tem, das urgências fechadas, das grávidas que têm filhos nas ambulâncias. Fala-se da imigração, em ruas inteiras de Lisboa, fala-se da criminalidade, da rede de carteiristas romenos, dos ciganos que entram nos hospitais, do brasileiro que matou outro e outro que era do Comando da Capital, fala-se de insegurança nas ruas, dos sem abrigo que eram 100 e passaram a 170 na Região, faz-se alarde de uma casa que abrigou 6 e nunca mais se viu nada, promete-se agora mais casas para esse efeito, talvez mais 6 quando o número for 200. Fala-se da corrupção, dos concursos desertos e que depois são divididos em fases para acertar o passo dos concorrentes, aparecem três para a fotografia e depois ganha o que tem de ganhar, fala-se dos tachos para amigos e familiares, daqui grita-se para Lisboa, de Lisboa grita-se para cá, o PSD acusa o PS, o PS acusa o PSD, o CDS acusa confirme onde está e assim se passa o café da manhã ou da tarde, o almoço regado ou as reuniões de família e amigos, onde os descomprometidos atiram a tudo e os outros dizem sempre que sim, não vá alguém ouvir ou julgar que ouviu atrás das portas.
O CHEGA fala disto tudo e todos os dias. Ventura dá-lhe o toque do discurso e o grande plano de crescimento não é tanto dos que fizeram o percurso mas muito mais de quem lhes fez e abriu o caminho. Ventura tem mérito neste meteórico crescimento do CHEGA. Mas o outro grande mérito é do PSD e do PS, que andaram a brincar aos partidos, a brincar com as pessoas, a terem atitudes prepotentes, a terem governações desastrosas nas alternâncias democráticas que fizeram entre si. Até que alguém disse CHEGA, sem limites, de tal modo que lidera a oposição e toda a gente põe as mãos na cabeça porque o eleitorado deu um murro na mesa, não um murro ideológico, como se quer fazer crer para justificar a existência dos partidos tradicionais, mas um murro de povo farto disto tudo, que viu materializado no discurso de um partido as queixas que tem da política e dos políticos.
Mas como se não bastasse serem os criadores do CHEGA, os políticos do chamado arco do poder, bem como candidatos presidenciais, comentadores e afins, continuam a alimentar a criação. O povo não gosta de quem hostiliza as suas escolhas desta forma, na prática dá força a André Ventura, o povo não gosta de ver Marques Mendes dizer que Ventura não pode nem nunca será presidente da República, não é esta a forma de combater a candidatura do líder do CHEGA. Só as eleições vão ditar a escolha, não há nenhum candidato excluído sem ser pelo povo. E estranha-se que Marques Mendes, que até tem feito uma campanha serena de ataques, tenha esta atitude pouco democrática, por muita razão que tenha para alertar relativamente a André Ventura e aos perigos de uma sua eleição.
Cada voto em Ventura representa descontentamento com PS e PSD, sobretudo, mas também às alternativas inexistentes para a necessária moderação. Quando a escolha é esta, vai Ventura para chatear os "incompetentes". E pronto, muita gente pensou assim...é inevitável o que aconteceu.
Se querem combater o CHEGA, governem para as pessoas, pratiquem a transparência e dêem estabilidade e segurança ao povo, defendam a autoridade do Estado dentro do quadro democrático. Fazer combate ao CHEGA porque sim, como se não fosse um partido do figurino constitucional, permitindo a vitimização do líder e ridicularizando o eleitorado, pode ser um caminho sem retorno para os partidos tradicionais.
Em regime democrático, o debate e o combate devem ser feitos pela via democrática. Dá trabalho, exige competência e menos negociatas que o à vontade do excesso de poder tem dado, mas é a única forma de ter a confiança das pessoas.
Se for só para dizer chega ao CHEGA, teremos Ventura por muito tempo e consequente...





Comentários