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  • Foto do escritorHenrique Correia

Quando é que isto começou sem darmos por isso...?




Acho que tanto as famílias como o Estado estão a falhar com as novas gerações criando uma envolvencia de competitividade e de superficialidade de valores que desvirtuam e invertem a hierarquia de prioridades na formação e na afirmação dos jovens.



Imagem site da PJ.


O suposto envolvimento de um jovem português de 17 anos, do norte do Pais, num esquema que, segundo a Judiciária, passava por instigar, à distância, outros jovens para cometerem crimes, sendo-lhe atribuída intervenção num "ataque com arma de fogo (um revólver calibre 38) numa escola de Sapopemba, no Brasil, resultando na morte de uma jovem do sexo feminino de 17 anos", é assustador para qualquer cidadão, para qualquer pai, para qualquer mãe, mas cujos contornos, levados ao limite, poderíamos adivinhar como prováveis depois de uma permissividade e leveza com que levamos a educação (o ensino é outra coisa que muitos confundem com Educação) dos filhos e passamos a vida a responsabilizar o Estado, as instituições, a Escola, pela inércia parental que desde há alguns anos, como alguém já disse, anda preocupada em deixar um mundo melhor para os filhos quando, na realidade, era Importante deixar filhos melhores para o mundo.

Acho que tanto as famílias como o Estado estão a falhar com as novas gerações criando uma envolvencia de competitividade e de superficialidade de valores que desvirtuam e invertem a hierarquia de prioridades na formação e na afirmação dos jovens. A sociedade está a preparar a juventude para o ter e muito pouco para o ser, o que acaba, em muitos casos, por uma supremacia de valorização material que é acompanhada, em muitos casos, mais do que se pensa, por uma fragilidade emocional em que a luta pelo sucesso, quando levada so limite, resulta em fracasso, em desilusão, em frustração, em depressão. E o natural desmoronamento da estrutura familiar em função do sofrimento generalizado que resultou de uma "cegueira" completa sobre o que está à volta desse mesmo mundo. Esta pressa de fazer Ronaldos, de fazer Bill Gates, de fazer likes no mundo virtual, olhos e tudo fixados nos milhares de fãs que que se resumem a dois nos momentos maus, o pai e a mãe, vai dar cabo das sociedades se não houver uma reviravolta conjunta das famílias e do Estado.

Relata a Judiciária que o jovem detido "criou e gere um grupo na plataforma Discord, já devidamente identificada, onde se agruparam diferentes pessoas apologistas dos mesmos ideais e que pretendiam cometer atos semelhantes aos idealizados e propagados por aquele, como sejam: automutilação grave de jovens, mutilação e morte de animais, difusão de propaganda extremista nazi, instigação e prática da “missão” de cometer massacres em escolas (filmados e transmitidos através do telemóvel) e, ainda, partilha e venda de pornografia infantil".

A PJ conseguiu já apurar que "este tipo de condutas foram partilhados no grupo, incluindo transmissões ao vivo de agressões contra animais que levam à sua mutilação e morte, jovens a beber detergente e a auto mutilarem-se com objetos cortantes".

De facto, é um relato inacreditável. Como é que estas situações são possíveis? Como é que deixamos os jovens entregues a si próprios, na relação com os meios digitais e no silêncio familiar? Quando é que isto começou sem darmos por isso?

Se calhar, tudo começa com aquela corrida vertiginosa para dar um telemóvel aos "primeiros passos" visando fazer chegar as crianças primeiro do que as outras. Primeiro em tudo, tudo hoje. Os afetos, as emoções, as palavras e o valor dessas nas relações, podem esperar.

Por estas e por outras, a sociedade vai atrás do prejuízo...

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